domingo, julho 31, 2011

Kafka – Um livro sempre aberto [Colecção Cassiopeia]

ilustração de Manuela Bacelar in Kafka – Um livro sempre aberto    
"Quero ir-me embora, quero subir escadas, se necessário às cambalhotas."

O Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e o Departamento de Estudos Germanísticos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto levaram a cabo em 5-12-2008 uma jornada dedicada a Franz Kafka, com a qual se pretendeu assinalar o 125º aniversário do nascimento do escritor.Os seis estudos que se publicam neste volume constituem as respostas de outros tantos autores, atentos ao desafio que representa a obra de Kafka, livro sempre aberto a um novo “virar de página”.


ÍNDICE

- Introdução
- Tradução e Edição – A Propósito de Recentes Traduções de Kafka | Teresa Seruya
-  Kafka -  Uma Habilidade Necessária | Nuno Amado
-  “Os Filhos” de Kafka: Construções de Masculinidades em “A Sentença”, “ A Metamorfose” e “ O Fogueiro” | Teresa Martins de Oliveira
- Kafka -  Os Paradoxos de “O Novo Advogado” | Gonçalo Vilas-Boas
 - Fantasias de Fragmentação em Conrad, Kafka e Pessoa | Gerald Bär
- À Conversa com Manuela Bacelar
- Anexos Ilustrações de Manuela Bacelar – “Kafkas para que vos quero”

quinta-feira, julho 28, 2011

Cabem num bolso: Magic Resort (Florencia Abbate) e Nenhum Lugar (Ricardo Romero)

 Nenhum Lugar, de Ricardo Romero e Magic Resort, de Florencia Abbate já chegaram.
Para sua comodidade peça-os aqui.
Excerto de  Nenhum Lugar, de Ricardo Romero
«Acordou ao ouvir o silêncio. Entreabriu os olhos, depois abriu-os completamente, mas a claridade continuava sem aparecer. Primeiro avistou as casas, e só ao vê-las soube que tinham parado. As casas estavam aí, feitas de uma quietude negra, do outro lado da rua, demasiado próximas. A ausência do barulho do motor provocava-lhe uma certa angústia, mais ainda que a que lhe podia provocar a ausência do taxista. Por instinto procurou a mochila. Estava aí, continuava pousava perto dos seus pés. Abriu-a e comprovou que não lhe faltava nada. Voltou a olhar para as casas e sentiu-se intimidado. Não se atrevia a sair do táxi. Ainda era de noite e isso não lhe agradava, não lhe podia agradar. Por alguma razão, a noite era ainda mais escura agora, embora a Mauricio não lhe parecesse que houvesse menos estrelas. Mas podia sequer ter a certeza de que era a mesma noite? Procurou a la e não a encontrou. Quis saber que horas eram, mas não conseguiu ver nada no seu relógio de pulso. Em toda a rua só um candeeiro estava aceso, a mais de dois quarteirões de distância.»
 Excerto de  Magic Resort, de Florencia Abbate
«Uma enfermeira jovem contou-me que tinha estado em coma. Olhou-me, boquiaberta, quando lhe disse que me sentia incrivelmente bem, sem nenhuma ressaca, forte, como nunca…
Os médicos não me deram nenhuma esperança. E os meus pais por pouco não desmaiaram porque entraram e me viram a procurar a mochila. O meu pai conseguiu que me dessem alta ao meio-dia. A minha mãe lacrimejou de alegria ao constatar que conseguia descer as escadas do hospital sem ajuda. Eu estava morto de fome e propus um restaurante. Levaram-me a almoçar a esse lugar e fizeram-me as vontades o tempo todo. Até chegarmos a casa mantivemos conversas graciosas e calorosas. Depois, a alegria provocada pela bela surpresa da minha ressurreição foi relegada para segundo plano. O que mais lhes importava era averiguar o motivo da minha tentativa de suicídio.»

quarta-feira, julho 27, 2011

Nenhum Lugar, de Ricardo Romero [trad. Patrícia Louro]



Começa assim Nenhum Lugar, de Ricardo Romero [trad. Patrícia Louro]
Já disponível nas livrarias e aqui.

"Deitado no assento traseiro do táxi, sentido o suave tremor do carro nas costas, Mauricio olha o teto e escuta. Dormiu, dorme, está quase a dormir. Na rádio ouve-se, débil, com dificuldade, uma canção melancólica e ligeira.
“Roxanne, you don’t have to put on the red light
those days are over
you don’t have to sell your body to the night
Roxanne ...”
Onde estava? Ou devia perguntar-se, onde ia? A música dava-lhe voltas à cabeça, aprisionando-o num suave refúgio de sonolência e dilação. Doíam-lhe as costas e as pernas, mas não chegava a pensar nisso. No teto dançavam sombras, figuras evanescentes e sem sentido, de uma realidade ameaçadora e vazia. Pela janela, pelo contrário, via-se um troço de céu estrelado, simultaneamente escuro e resplandecente. Respirou fundo. Fechou os olhos, sentia-se confuso, e desejou não pensar nessas coisas. Em que coisas? Em que é que estava a pensar? Voltou a abrir os olhos, pestanejou duas ou três vezes. Demorou algum tempo a compreender que estava acordado e que nesse carro havia demasiadas coisas que ele não sabia identificar. Uma delas era a canção, mas certamente não era a mais importante. Como sabia que estava num táxi? E porque é que não devia sabê-lo? Além disso, porque lhe parecia tão urgente acordar de todo?

Na penumbra do táxi e da noite, Mauricio viu por fim a nuca do taxista, examinou o desenho negro e largo do seu dorso, perguntou-se porque dizia dorso e não costas, seguiu o recorte preciso e revolto da sua cabeça, e ao endireitar-se no banco avistou o balançar impercetível das suas mãos sobre o volante. Estava num táxi e sabia-o, isso já parecia ser alguma coisa. Olhou à sua volta através das janelas e viu a noite, e na noite, o deserto esbranquiçado na distância. Procurou a lua, e não a encontrando sentiu-se inibido. O carro avançava em linha reta e o taxista não parecia ter-se dado conta que o passageiro tinha acordado. Mauricio olhou a estrada à sua frente, o asfalto iluminado pelas luzes do carro, talvez também um pouco mais além, sobre o cinzento claro e apagado que se estendia, interminável, debaixo do fulgor pálido do céu noturno. As riscas brancas seguiam-se uma após outra debaixo do feixe de luz e desapareciam debaixo do táxi. Mauricio teria preferido não as ter visto, mas já parecia ser demasiado tarde. Disse para si que era possível não lhes prestar atenção, olhando então para a estrada sem a ver, apenas por hábito, escutando a rádio que cada vez se ouvia pior. O desconforto que lhe provocavam essas riscas não se desprendia delas, estava ali, sem origem, e não valia a pena tentar persegui-la. Para as deixar de lado pousou o olhar nos postes torcidos de arame dos dois lados da estrada, mas também eles tinham a sua própria sucessão de melancolias sem nome, que se desfaziam uma e outra vez em sombras fugazes e caladas.

Sem saber muito bem o que fazer, aproximou-se da janela e perscrutou a paisagem para lá da estrada. A noite era clara e ele podia ver uma grande extensão de arbustos baixos e pastagens ralas sacudidas pelo vento. Era uma paisagem plana, onde só se destacavam umas elevações escuras que pouco se diferenciavam do céu na linha do horizonte. Perto ou longe só crescia o vento, o resto parecia limitado a uma resignação vazia e imensa. Mauricio, ao observar tudo isto, sentiu a vã necessidade de dizer-se o seu nome em voz baixa, de o recordar.

“rrr...roxanne...rrrrrr...”

A estática da rádio, pouco a pouco, ia deixando atrás a música, que parecia perder-se na obscuridade da estrada que iam percorrendo. Com o olhar perdido na imensidão plana da paisagem Mauricio perguntou-se pela primeira, ou talvez pela segunda vez, para onde estavam a ir. Olhando através da janela, sentindo agora o cansaço das pernas de tanto estar sentado, acabou por perceber a sua confusão. Deviam levar bastante tempo a viajar. Isso era bom ou mau? Não sabia, e a única coisa que parecia preocupá-lo nesse momento era que a música não desaparecesse, que não o deixasse sozinho com o taxista e com a estática. Porque era isso tão importante para ele? E que havia de mau em que fosse tão importante?

Acomodou-se no banco para confrontar o taxista, mas ao fazê-lo tropeçou com uma mochila que estava a seus pés. Era uma mochila preta com o fecho estragado, e antes de a abrir Mauricio já sabia o que continha. Dois pares de meias, dois pares de boxers, duas t-shirts, uma camisa, um pulôver cinzento com decote redondo, uma escova de dentes recém-comprada, papel higiénico, um isqueiro vermelho, uma edição maltratada de Macbeth e uma lanterna. Abriu-a, revistou-a. Não se tinha enganado, e a sua exatidão incomodou-o. Para que queria uma lanterna? Guardou o isqueiro num bolso das calças porque esse é o lugar que pertence aos isqueiros. Tirou o livro, segurou-o entre as mãos, amarelado, certamente roubado, unido apenas por pedaços de fita-cola preta. Na obscuridade do táxi não era possível ler, mas de todas as formas ele sabia das mulheres feias e disformes que falavam de um bosque em movimento que era portador da morte. A morte, isso não era algo em que ele pensasse muitas vezes. Pela janela voltou a contemplar a noite, o deserto, e aceitou vagamente que o que se movia era ele, entre extensões de vento e areia. Devolveu o livro à mochila, dizendo-se que tudo era possível e não pensou mais nisso."



segunda-feira, julho 25, 2011

Conto da Travessa das Musas, João Pedro Mésseder (texto) e Manuela São Simão (ilustração)

Ver aqui.



[...] Da janela, observava aquela travessa de pessoas humildes, onde a sua família era a única de «gente remediada» - assim dizia a mãe - e por onde, ao fim da tarde, circulava um polícia gordo e pachorrento, com cara de tractor amolgado, a quem a garotada chamava «o Bigodes». Era também na rua, quase sem trânsito, que brincava e jogava à bola, com grande alarido, a miudagem das casas pobres. [...] in O conto da Travessa das Musas, João Pedro Mésseder (texto) e Manuela São Simão (ilustração)

domingo, julho 24, 2011

Perigo Vegetal, Ramón Caride (texto) e Miguelanxo Prado (ilustração)

Enquanto a Ameaça na Antártida não chega, Perigo Vegetal.

Said e Sheila vivem, no ano 2075, no interior da Galiza, mas estão ligados em comunicação ao mundo global do passado. Uma gigantesca companhia transnacional, a C.U.B., tenta apoderar-se de todas as sementes de cereais existentes como parte de um plano para dominar toda a agricultura do planeta.

O Perigo Vegetal é apenas a primeira aventura destes dois corajosos irmãos.Ramón Caride escreveu e Miguelanxo Prado ilustrou.
 “Depois da colheita da planta, as raízes que ficam na terra sofrem uma mutação e originam esta planta destruidora. […] a única forma de a eliminar é arar muito fundo, a vários metros de profundidade, para eliminar todas as raízes e poder voltar a semear. Mas o processo é muito complexo, basta que fique uma raiz, por pequena que seja e regenera-se a praga.” in Perigo Vegetal


Perigo Vegetal  aborda, de uma forma simples, as consequências nefastas da monocultura e da manipulação genética, sem controlo e sem escrúpulos.
O comportamento das plantas geneticamente modificadas é diferente em laboratório e em vastas áreas. Se as plantas geneticamente modificadas tiverem um elevado poder de propagação elevado, as plantas convencionais podem vir a ser exterminadas. A biodiversidade fica em perigo. Com menor diversidade de espécies a vida na Terra torna-se mais sujeita a alterações ambientais. Pelo contrário, quanto mais rica é a diversidade biológica, maior é a oportunidade para descobertas no âmbito da medicina, da alimentação, do desenvolvimento económico, e de serem encontradas respostas adaptativas a essas alterações ambientais.

 
Plano Nacional de Leitura 
Livro recomendado no programa de português do 6º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada na sala de aula - Grau de Dificuldade II.

No blogue As aventuras de Sheila e Said são disponibilizados alguns recursos didácticos para auxiliar na exploração do texto.

Críticas

"Uma aventura para miúdos com dez anos ou mais, cujos protagonistas vivem na Galiza, no ano de 2075. Perigo Vegetal conta-nos como experiências com um super-cereal estão a pôr em perigo o planeta. Sheila e Said são dois irmãos que, do futuro, lançam alertas ecológicos para o passado. Uma espécie de diário a quatro mãos, que não deixa de transparecer as embirrações próprias dos manos adolescentes. Vindo da banda desenhada, o ilustrador Miguelanxo Prado cria um ambiente que se adequa bem à natureza do texto. Um tema pertinente." Rita Pimenta, Milfolhas, Público, 20.Dez.03

"Uma obra bem contada, divertida, actual, das que se lêem de uma só vez e fazem novos leitores para as aventuras que se seguem." Helena Pérez, Julho de 2002

sexta-feira, julho 22, 2011

O Aquário, de João Pedro Mésseder

Sugestão de leitura




Uma história de peixes, cores e sabores para os mais pequenos. Um aquário é também um mundo em miniatura, onde se jogam relações entre iguais e diferentes, novos e velhos, e onde se geram preconceitos e ideias feitas. As ilustrações ajudam a compreender situações e personagens, sem deixarem de construir um cenário onírico e sedutor. 


Saber mais aqui.

quarta-feira, julho 20, 2011

A saga vai continuar...

O Homem que Via Passar as Estrelas, de Luís Mourão - TEATRO para a Infância e Juventude




Quarto de Isaac Newton. Roupas, vidros, lunetas, máquinas desmontadas,livros, restos de comida em pratos, copos, tabuleiros,duas cadeiras, rolos de papel de todos os tamanhos, mapas, um telescópio. Tudo a um canto. No centro, um escadote.

1. Entrada


Próspero
(Paciente. Em cima do escadote. Newton, de pé, mãos atrás dascostas, cá em baixo) Repete lá, devagar.

Newton
(Recita) Newton. Isaac Newton. Nasceu em 1642 e morreu em 1727. Quando nasceu a Terra era redonda, quando morreu era achatada nos pólos. Quando nasceu o peso da Lua pressionava o mar e fazia-o subir e descer, quando morreu são o Sol e a Lua quem atrai as águas provocando as marés. Quando nasceu…

Próspero
Já chega. Como é que acaba?


Newton
Acaba assim. “Não sei como o Mundo me verá mas, a mim, parece-me que fui sempre um rapazinho a brincar na praia que por diversão encontrou de vez em quando uma pedra mais redonda ou uma concha mais bonita do que as outras, enquanto o grande Oceano da verdade continuava ali, à minha frente, todo por descobrir.”

Próspero
Quem disse?

Newton
Newton. Isaac Newton. Bonito, hã? (Escuro. Próspero acende uma lanterna. Som do mar, talvez também o canto das baleias. Próspero perscruta o Mar de cima do escadote. Chuva. Newton, senta-se. Próspero, desce do escadote e afasta-se. Toda a luz em Newton. Chuva. Mais forte. Entra a mãe. Fecha o chapéu de chuva e pousa-o)

Mãe
(A Próspero) Boa noite, que chuva horrível. (A Newton) Estás pronto? Estás nervoso? (Não há resposta. Ao público) Este é o meu filho… vem fazer teatro. (Justifica-se) É a primeira vez que vem fazer teatro e por isso ninguém leva a mal com certeza que eu venha com ele... para fazer companhia. Afinal de contas
ele sempre é meu filho. E eu sou a mãe dele, claro… (Exagera) Já sei o que me vão dizer: “Oh, ela é tão nova e já com um filho daquele tamanho”. (Suspiro) Já estou habituada. (Suspiro desmedido) Ele, o meu filho, tem a mania que é o Isaac Newton. Já lhe disse centenas de vezes que não era mas, ele não acredita.


Newton
Sou, sou.
[Para continuar a ler, comprar o livro aqui]

terça-feira, julho 19, 2011

O Homem que Via Passar as Estrelas, de Luís Mourão

O Homem que Via Passar as Estrelas, de Luís Mourão, que a Deriva agora publica,  é um livro recomendado para Apoio a Projectos Relacionados com TEMAS CIENTÍFICOS -3º, 4º, 5º e 6º ANOS DE ESCOLARIDADE. O Homem que Via Passar as Estrelas é uma viagem ao centro dos planetas do Sistema Solar, guiada pelo grande astrónomo da Humanidade, Sir Isaac Newton. O descontentamento dos planetas é geral, e um de cada vez, procuram Sua Majestade, o Sol, cada um com o seu protesto. Em vão. É noite e Sua Majestade não recebe visitas. Newton é acordado com a chegada repentina destes planetas que afirmam que dali não saem sem serem ouvidos. O Homem que Via Passar as Estrelas é um texto dramático, com ilustrações de Sandie Mourão e com prefácio de Máximo Ferreira. E acompanhado de um dossiê/Kit  de observação de estrelas da autoria de Paulo Simões.

Arte de folgar, Bailias por José Mário Silva, na Ler



Bailias
Autora: Catarina Nunes de Almeida
Editora: Deriva
N.º de páginas: 62
ISBN: 978-972-9250-77-4
Ano de publicação: 2011

No seu terceiro livro de poemas, Catarina Nunes de Almeida apropria-se dos temas, ritmos e vocabulário das cantigas de amigo medievais. Os poemas são delicadamente atribuídos a donzelas cheias de graça e leveza, tão disponíveis para o amor como para o espectáculo grandioso da natureza. Este é um mundo de folguedos, uma espécie de primavera eterna, declinada em cânticos que ecoam nas «noites bem bebidas». Um mundo de cavalgadas e pomares, florestas e «pasto aceso», tranças e ramos, pão e uvas, lençóis e remos, «ancas ondeadas» e carne viva. As raparigas bailam «rente aos caules / pelos caminhos curvos do vento», ensaiando a «perfeição de um delito» que é sempre um excesso de felicidade, um alvoroço, a manifestação «de uma alegria que tem flores e frutos».
Catarina Nunes de Almeida deixa-se levar por estas criaturas diáfanas, aéreas, luminosas (embora não necessariamente inocentes), abre-lhes as dobras dos seus poemas, inventa-lhes um rasto e enquadra-as num universo verbal bem cerzido, feito de regras antigas que se estilhaçam com garbo, quase sempre através de subtis jogos de palavras («o grande aqueduto das éguas livres»; «adão e erva»; «árvore de rapina»). Aqui, a arte de folgar representa também a liberdade de fazer da linguagem o palco de todas as brincadeiras, de todos os desvios, de todas as reinvenções. É com «brandura épica» que acedemos às veredas que levam ao coração de cada texto. Como nos versos iniciais da secção intitulada “Barcarolas ou Manhãs Frias”:
Começávamos o dia por baixo
pelo tempo da pedra. A escarpa muscular onde ia gastando os teus sapatos. Manhãs compridas que chegavam ao mar. Trazíamos as letras inclinadas trazíamos na ponta da língua o nome dos naufrágios e estávamos à mesa como um corpo de baile.
Avaliação: 7,5/10
[Texto publicado no n.º 102 da revista Ler]

segunda-feira, julho 18, 2011

Vergonha da poesia?



Vergonha da poesia?

Mas a «miséria» da poesia não é só caso de marginalidade económica e social. Ela resulta, talvez mais fundamentalmente, das dificuldades que tem hoje, mais do que outras artes, em desfazer-se dos clichés que não só mancham a representação que dela se tem comummente, como a atulham a si própria nas suas tentativas de evoluir. Daí um mal-estar que pode ir até à auto-repulsa: já ninguém se atreve a afirmar-se poeta, como se se tivesse vergonha da imagem que a corporação projecta muitas vezes de si própria. E, de facto, pieguice, velharia, sentimentalismo, grandiloquência, afectação de uma pose recolhida, logomaquia, excesso de obscuridade com vista à intimidação do leigo: tantos defeitos que contribuem para esse mal-estar que, mais cedo ou mais tarde, qualquer um pôde experimentar ao assistir a leituras de poesia.

Jean-Claude Pinson, in PARA QUE SERVE A POESIA HOJE? 

sábado, julho 16, 2011

Kafka – Um livro sempre aberto [Colecção Cassiopeia]


Kafka – Um livro sempre aberto
Colecção Cassiopeia
Organizadores: Teresa Martins de Oliveira e Gonçalo Vilas-Boas
O Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e o Departamento de Estudos Germanísticos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto levaram a cabo em 5-12-2008 uma jornada dedicada a Franz Kafka, com a qual se pretendeu assinalar o 125º aniversário do nascimento do escritor.
Os seis estudos que se publicam neste volume constituem as respostas de outros tantos autores, atentos ao desafio que representa a obra de Kafka, livro sempre aberto a um novo “virar de página”.


ÍNDICE
- Introdução
- Tradução e Edição – A Propósito de Recentes Traduções de Kafka
Teresa Seruya -  Kafka -  Uma Habilidade Necessária
Nuno Amado -  “Os Filhos” de Kafka: Construções de Masculinidades em “A Sentença”, “ A Metamorfose” e “ O Fogueiro”
Teresa Martins de Oliveira - Kafka -  Os Paradoxos de “O Novo Advogado”
Gonçalo Vilas-Boas - Fantasias de Fragmentação em Conrad, Kafka e Pessoa
Gerald Bär - À Conversa com Manuela Bacelar
- Anexos Ilustrações de Manuela Bacelar“Kafkas para que vos quero”


Outros livros publicados nesta colecção: Tentações de Pedro Eiras

terça-feira, julho 12, 2011

NOTÍCIAS DAS GUERRAS NAPOLEÓNICAS - Dietário do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro 1807 - 1816



Notícias das Guerras Napoleónicas 
- Dietário do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro 1807 - 1816
Transcrição, actualização ortográfica, notas e índices de Maria Isabel Pereira Coutinho
Prefácio: Luís António de Oliveira
Depara-se o leitor com um relato invulgar que alia a uma vivência pessoal do narrador, ilustrada por ocorrências, cenas e episódios, impossíveis de captar sem a participação directa na acção, num permanente confronto quase diário com factos históricos importantes, para a História da Guerra Peninsular e fim da epopeia napoleónica. Transportando-o da serrania portuguesa para a frente de batalha europeia, marítima ou transcontinental, com a leveza de quem tem acesso a fontes de conhecimento privilegiadas, como se de “palavras apetrechadas de asas” (Odisseia, Canto I) usasse, o autor consegue envolver o leitor num permanente interesse histórico.
Esta constante dicotomia proporciona à narrativa uma vivacidade que atrai o comum leitor, sem de modo algum afastar o estudioso da época que marca a transição do mundo moderno para o contemporâneo.Num momento e passam 200 anos sobre os acontecimentos relatados, a descoberta acidental deste documento inédito, justifica plenamente a sua publicação. 

quinta-feira, julho 07, 2011

Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro

Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro

Fundado em 1059 segundo a tradição popular, embora a referência documental mais antiga remonte a 1099, o Mosteiro de Pombeiro gozava de privilégios e justiça própria já em 1112, como o comprova Carta de Couto concedida nessa data por D. Teresa. Esta instituição monacal encontrava-se já documentada desde 853, o que a torna uma das mais antigas do território, embora não existam provas materiais do primeiro estabelecimento. Localizado na intersecção de duas das principais vias da época medieval, uma que ligava Porto a Trás-os-Montes e uma segunda que ligava a Beira ao Alto Minho, o mosteiro adquiriu importância e serviu de guarida à corte e aos peregrinos em viagem. Com as dádivas da família Sousões e dos fiéis, Pombeiro chegou a deter 37 igrejas e um rendimento anual invejável, e cujo poder se estendia até Vila Real. Já na Idade Moderna, o mosteiro sofreu profundas modificações, em especial durante o período Barroco, das quais se destacam uma das alas do claustro, a nova capela-mor, o coro alto, várias obras de talha dourada e as próprias duas torres que ladeiam a frontaria. No início do século XIX procedeu-se a remodelação dos claustros numa intervenção neoclássica, entretanto interrompida com a extinção das ordens religiosas em 1834. Foi classificado como Monumento Nacional a 23 de Junho de 1910. [daqui]

quarta-feira, julho 06, 2011

Notícias das Guerras Napoleónicas: Dietário do Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro

"Depara-se o leitor com um relato invulgar que alia a uma vivência pessoal do narrador, ilustrada por ocorrências, cenas e episódios, impossíveis de captar sem a participação directa na acção, num permanente confronto quase diário com factos históricos importantes, para a História da Guerra Peninsular e fim da epopeia napoleónica. Transportando-o da serrania portuguesa para a frente de batalha europeia, marítima ou transcontinental, com a leveza de quem tem acesso a fontes de conhecimento privilegiadas, como se de “palavras apetrechadas de asas” (Odisseia, Canto I) usasse, o autor consegue envolver o leitor num permanente interesse histórico.
Esta constante dicotomia proporciona à narrativa uma vivacidade que atrai o comum leitor, sem de modo algum afastar o estudioso da época que marca a transição do mundo moderno para o contemporâneo.
Num momento e passam 200 anos sobre os acontecimentos relatados, a descoberta acidental deste documento inédito, justifica plenamente a sua publicação."

13 de Julho: Isabel Pereira Coutinho e Luís Oliveira Ramos apresentam «Notícias das Guerras Napoleónicas-1807/16» na Academia das Ciências, Lisboa